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33-01Economia – O empresário Ricardo Roldão é sócio e CEO de uma rede atacadista que deve faturar R$ 3 bilhões neste ano. No dia 15 de março, em um evento na capital paulista, Roldão estava inconformado com os rumos da política e não via outra saída senão o fim do governo Dilma Rousseff. Naquela data, Dilma havia anunciado a nomeação do ex-presidente Lula como ministro-chefe da Casa Civil, cargo que não chegaria a assumir. Dois meses depois, a DINHEIRO teve outro contato com o empresário em um almoço organizado pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), também em São Paulo. Naquele momento, o presidente Michel Temer estava no cargo havia dez dias e já tinha anunciado a sua equipe econômica. A disposição de Roldão era bem diferente. Animado, ele traçava planos para o momento da virada econômica. Na quarta-feira 20, o dono do Atacadista Roldão foi além e anunciou a abertura de mais cinco unidades – a primeira será em agosto, na cidade de Santos –, totalizando 32. “Quem demorar muito esperando a crise passar vai perder boas oportunidades”, diz ele (leia entrevista na pág. 26). É esse tipo de otimismo o principal ingrediente que possibilitará um crescimento agregado de 6% do PIB em 2017 e 2018, segundo as mais recentes previsões de economistas e instituições ouvidos pela DINHEIRO.

A mudança no humor em relação ao Brasil pode ser constatada em diversos levantamentos. O BTG Pactual e a KPMG estimam que US$ 50 bilhões entrarão no País por meio de fundos dispostos a investir em projetos de longo prazo e em fusões e aquisições, assim que o impeachment for aprovado. A gestora canadense Brookfield, que tem US$ 225 bilhões em ativos, está de olho na infraestrutura e no mercado imobiliário brasileiros.  A confiança também está em alta entre os players locais. Embora abaixo da marca dos 100 pontos (patamar otimista), o Índice de Confiança da Indústria (ICI) da Fundação Getulio Vargas (FGV) cresceu 11,6% nos últimos cinco meses, passando de 74,7 pontos para 83,4 pontos, o maior nível desde fevereiro de 2015. Os índices do comércio, dos serviços e dos consumidores seguem a tendência e, em todos os casos, a expectativa futura é muito maior do que a satisfação presente. Ou seja: ainda está difícil, mas vai melhorar.

Acompanhar com lupa os indicadores de confiança é uma rotina para o economista sênior do Banco Pine, Marco Caruso. Embora utilize modelos econométricos para fazer suas previsões, Caruso percebeu que é possível antecipar a tendência do PIB calculado pelo IBGE por dois trimestres ao compará-lo com o índice de confiança da FGV, cuja mediana desde 2001 é de 101 pontos (atualmente o ICI está em 83,4 pontos, conforme descrito no parágrafo anterior). Se a confiança voltar ao patamar histórico já no ano que vem, o PIB poderá crescer, no limite, 3%. Se o patamar de 101 pontos for alcançado apenas em 2018, o crescimento econômico será menor, de 1%. “O meu cenário mais provável ainda é de 1% para o PIB, mas o recado é que o PIB de 2017 está em aberto e depende da retomada da confiança”, diz Caruso.
A projeção do economista está em linha com a mediana do mercado. O Boletim Focus do Banco Central, que compila semanalmente as previsões de cerca de 100 instituições, mostra que os analistas projetam um crescimento de 1,1% do PIB em 2017. Há no mercado consultorias com projeções mais animadoras, como a MB Associados, que prevê uma alta de 2%. “É uma previsão realista, e não otimista, que se dá em cima de uma queda de 8% em dois anos”, afirma Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. Para que a decolagem da economia seja bem sucedida, há  premissas que precisam se concretizar.

Algumas etapas já foram superadas, como a saída do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara dos Deputados. “Com o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Casa, a tramitação dos projetos do governo será muito mais veloz”, diz José do Egito Frota Lopes, presidente da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados (Abad), que projeta um crescimento setorial de 3% em 2017, após dois anos ruins. Ainda na esfera política, há a convicção por parte dos empresários de que o processo de impeachment da presidente Dilma será concluído no fim de agosto, após os Jogos Olímpicos.

EUFORIA DO MERCADO Os efeitos da tão aguardada retomada econômica já estão sendo antecipados pelo mercado financeiro. Nas últimas semanas, a Bovespa vivenciou um rali de compras de ações. O Ibovespa, termómetro do otimismo, subiu mais de 30% no ano e está prestes a beliscar os 57 mil pontos, o maior patamar em 14 meses. Nas últimas semanas, o dólar recuou a R$ 3,20, cotação 24% inferior à registrada no período de desânimo total com o governo Dilma, quando a moeda americana chegou a valer R$ 4,19. O real valorizado é interpretado como um sinal de confiança do investidor estrangeiro no País da mesma forma que a alta do dólar decorria da crise política e econômica. Porém, o setor empresarial vê com cautela essa valorização, pois teme a concorrência dos importados. “Não adianta nada retomar o PIB em 2017 se os importados invadirem o mercado interno”, diz Heitor Klein, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados. “Precisamos de um dólar em torno de R$ 3,50.” Além de se proteger principalmente dos produtos chineses, o setor calçadista brasileiro quer ampliar as exportações, que hoje representam 15% do faturamento. A meta é chegar a 25%.

O setor externo pode fazer toda a diferença no PIB de 2017. Nas contas do economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, o PIB crescerá 2,1% no ano que vem, sendo que o tripé consumo-investimento-gasto público será responsável por apenas 0,5 ponto percentual e o setor externo por 1,6 ponto percentual. “Em 2017, teremos até superávit em conta corrente depois de vários anos de déficit”, diz Oliveira. A indústria química também está de olho nesse protagonismo do setor externo, principalmente da balança comercial. Nos últimos 12 meses, o câmbio mais desvalorizado impulsionou as vendas ao exterior em 22% e reduziu a participação dos importados no mercado interno de 35% para 32%. “Precisamos de estabilidade cambial”, diz Fernando Figueiredo, presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), que torce pela recuperação dos seus clientes dos segmentos de automóveis, cosméticos e alimentos. “Se o PIB crescer 2% no ano que vem, a expansão do setor poderá ser de 2,5%.”

Na ponta otimista do mercado – ou realista, como os analistas gostam de frisar – também está a equipe econômica do Banco Santander, que projeta uma expansão de 2% do PIB em 2017 e de 2% a 3% em 2018. Além da retomada da confiança, o economista-chefe do banco, Mauricio Molan, destaca a importância da queda dos juros básicos, que resgataria o apetite de empresários e consumidores. Na quarta-feira 20, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a Selic em 14,25% ao ano, mas é muito provável que um ciclo de afrouxamento monetário seja iniciado até o fim do ano. “O Banco Central tem plena autonomia para definir a taxa de juros”, afirmou Temer, no mesmo dia. A maioria dos analistas se divide entre os que acreditam num corte em outubro e os que apostam em novembro. Para o Santander, os juros deveriam cair em agosto. “A inflação está numa trajetória de queda consolidada e não há uma pressão de demanda”, diz Mauricio Molan, economista-chefe do banco. “A taxa de juros no nível atual está muito acima do equilíbrio.”
A redução dos juros é um ingrediente necessário para a retomada do crédito. Em 2016, a oferta total deverá crescer apenas 1%, segundo o Banco Central. “No ano que vem será possível o crédito crescer perto de 5%”, diz Nicola Tingas, consultor econômico da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi). “O crédito é pró-cíclico e a expansão econômica, inevitável.” Tingas prevê uma expansão de 2% do PIB em 2017 e de 3,5% a 4% em 2018. A favor do crescimento também está a ociosidade nas empresas, que poderão rapidamente religar suas máquinas. Para manter o clima positivo, o governo anunciará um pacote para estimular a economia e servir de contraponto ao ajuste fiscal.

Para os setores ligados ao consumo, o item-chave que determinará o clima dos negócios é o desemprego, que continuará subindo até meados do ano que vem, mas num ritmo cada vez mais lento. Por outro lado, o bolso do consumidor ficará aliviado pela queda da inflação. É de olho nesse efeito benéfico que a Associação Paulista de Supermercados (Apas) projeta um crescimento real de, ao menos, 2% nas vendas em 2017. “Qualquer melhora na renda ou no emprego ajuda o setor de bebidas, alimentos, cosméticos e perfumaria”, diz Rodrigo Mariano, gerente de economia e pesquisa da Apas.

Como em qualquer cenário prospectivo, há diversos riscos à sua concretização. Na política, o principal deles é o avanço da Operação Lava Jato e eventuais impactos na cúpula do governo Temer. Além disso, há a possibilidade de o ex-presidente Lula ser candidato em 2018, ressuscitando ideias econômicas rechaçadas pelo mercado. Na área fiscal, o principal obstáculo é convencer os sindicalistas dos problemas que o adiamento da reforma da previdência gerará às futuras gerações. Lá fora,  a lista de incertezas é grande, incluindo Donald Trump (leia reportagem na pág. 28).
Apesar dos riscos, é crescente o número de investidores que apostam no Brasil. Na quinta-feira 21, o Tesouro Nacional captou US$ 1,5 bilhão em papéis de 30 anos , aproveitando o apetite global por ativos de risco. O Instituto Internacional de Finanças, formado pelos 500 maiores bancos do mundo, acredita que o País crescerá 1,5% em 2017 e mais de 3% no ano seguinte.

Até o Fundo Monetário Internacional mudou de ideia. Na terça-feira 19, o órgão revisou de zero para 0,5% a alta do PIB em 2017. É uma projeção tímida, já defasada, mas que deverá crescer mais rápido e forte do que muitos imaginam. Se tudo ocorrer como o previsto, não será difícil imaginar nos próximos anos uma nova capa da revista The Economist com o Cristo Redentor decolando. Para os brasileiros, cada vez mais confiantes, será notícia velha.

“A confiança está voltando”
Ricardo Roldão, sócio e CEO do Atacadista Roldão

O sr. está mais otimista com o Brasil?
É nítido que o clima entre os empresários vem mudando. A confiança está voltando. Estamos aproveitando as oportunidades, pois é possível que o mercado melhore antes do que muita gente espera. 

O que isso muda no Atacadista Roldão?
Adquirimos quatro lojas neste ano e vamos abrir mais cinco unidades.

Os analistas dizem que a confiança depende do ajuste fiscal. O governo Temer terá força no Congresso?
Sim. O presidente Temer quer fazer a reforma da previdência e a trabalhista. Com a postura de não ser candidato em 2018, ele vai conseguir aprová-las.

Como o sr. avalia a eleição do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara dos Deputados?
Fiquei bastante satisfeito porque os parlamentares em torno do Rodrigo Maia são a favor do diálogo.

As privatizações são positivas? 
Sou totalmente a favor porque eu acredito que o governo deve tomar conta de saúde e educação e deixar o restante para a iniciativa privada. 

O que falta para o setor empresarial desengavetar projetos?
Os estrangeiros aguardam apenas a definição do impeachment e os empresários nacionais já estão desengavetando projetos. E digo mais. Quem demorar muito esperando a crise passar vai perder boas oportunidades.

Uma mão estrangeira para o investimento
Fôlego para o agronegócio proibição a capital estrangeiro em terras represou R$ 100 bilhões em investimentos

Na busca por uma pauta positiva que sirva de contraponto às medidas amargas na fila do Congresso, o governo Temer deve avançar, nas próximas semanas, em temas regulatórios para aprimorar o ambiente de negócios e destravar investimentos no País. O principal foco é rever um entrave que proibiu a venda de terras para estrangeiros no Brasil, a partir de um parecer da Advocacia Geral da União (AGU) de 2010. O setor estima em cerca de

R$ 100 bilhões o volume de recursos represados. O investimento em terras próprias  costuma ser usado principalmente por grupos da agroindústria como forma de ajudar a controlar os custos de produção e servir de garantia de insumos para a fabricação em setores como o sucroalcooleiro e o de papel e celulose.

Segundo representantes do agronegócio, a medida ganhou força devido à necessidade de capital que o Brasil enfrenta atualmente e com a maior disposição do novo governo para discutir o tema. “O governo anterior tinha uma visão ideológica, por questões de soberania”, afrima Luiz Cornacchioni, diretor-executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). O principal temor por trás da proibição era uma possível invasão chinesa.

O  agronegócio foi um dos setores que mais receberam atenção de Temer até agora. Em uma mesma semana, ele esteve em dois eventos da área, em raras agendas fora do Palácio do Planalto. Na Frente Parlamentar Agropecuária, em Brasília, e no fórum internacional do setor, em São Paulo, ele sinalizou em favor da abertura lembrando a história de seu pai, imigrante libanês que cresceu produzindo no Brasil. “Esse governo nos deu mais abertura por ter uma percepção das potencialidades e necessidades”, afirma Gustavo Junqueira, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB). “Vamos precisar de capital estrangeiro para crescer.” Além da revisão do parecer, o setor também acredita na aprovação de um projeto de lei que regulariza a compra por estrangeiros, em tramitação no Congresso, como forma de evitar riscos de revés no futuro.

No radar da equipe de Temer, as bondades podem incluir ainda uma medida para permitir a venda de dívidas que a União tem a receber, para fazer caixa, a implantação de visto eletrônico a estrangeiros, para estimular o turismo, e uma possível liberação de crédito aos pequenos negócios.

Fonte: ISTO é

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